sexta-feira, 11 de junho de 2010

A última ceia (cenas: Paixão de Cristo)

A distribuição em torno da mesa: Judas Iscariotes e João à esquerda e à direita do Mestre, respectivamente. O Rabi ocupa o divã de honra, no centro do “U”. Os demais distribuíram-se na seguinte ordem: Simão o Zelote, Mateus, Tiago Zebedeu e André, pelo lado de Judas. À direita de João, os gêmeos Alfeu, Felipe, Bartolomeu, Tomé e Simão Pedro.

Muito tenho desejado partilhar desta ceia de Páscoa convosco... Queria fazê-lo uma vez mais antes de sofrer... Minha hora é chegada e, quanto a amanhã, todos estaremos nas mãos do Pai, cuja vontade vim cumprir. Não voltarei a comer convosco até que vos senteis comigo no Reino que meu Pai me entregará quando houver terminado aquilo para que me enviou a este mundo.

O Vinho

Tomai esta taça e dividi-a entre vós. E quando a houverdes compartido, pensai que já não beberei convosco o fruto da videira... Esta é nossa última ceia... Quando nos sentarmos outra vez, será no Reino que está por vir.

Pedro: Mestre, realmente vais lavar-me os pés?
Pode ser que não compreendais o que me disponho a fazer... Mas, de agora em diante, conhecereis o sentido de todas estas coisas.

Mestre, nunca me lavarás os pés!
Pedro, em verdade te digo que, se não te lavo os pés, não tomarás parte comigo no que estou pronto a levar a cabo.

Então, Mestre, não me laves apenas os pés... Também as mãos e a cabeça!
Aquele que já está limpo só precisa que se lhe lavem os pés. Vós, que vos sentais comigo esta noite, estais limpos...

...Ainda que não todos. Deveríeis ter lavado o pó de vossos pés antes de vos sentardes para tomar o alimento comigo. Ademais, quero fazer esta tarefa para ilustrar um novo mandamento que eu vos darei. Compreendeis o que fiz convosco?

Chamais-me “Rabi” e o dizeis, pois o sou. Então, se o Mestre lavou os vossos pés, por que vos negais a lavar-vos uns dos outros? Que lição deveis aprender desta parábola em que o Mestre, tão prazeirosamente, fez um serviço que vós negastes mutuamente? Em verdade, em verdade vos digo que um criado não é maior que seu amo. Nem tampouco tem sido a forma do meu trabalho em vida.

Bendito seja quem tiver a despretenciosa coragem de fazer igual. Mas por que sois tãolentos em aprender que o segredo da grandeza no reino do espírito nada tem que ver com os métodos do mundo do material? Quando cheguei a esta sala, não só recusáveis lavar os pés uns dos outros como também, além disso, discutíeis sobre quem deve ocupar os lugares de honra em torno de minha mesa. Essas honras são os fariseus que buscam... e as crianças. Mas não será assim entre os mensageiros do Reino Celestial. Será que não sabeis que não pode haver lugar de preferência em minha mesa? Não compreendeis que amo a cada um de vós como aos outros? O lugar mais próximo a mim pode não significar nada em relação a vosso posto no Reino dos Céus. Não ignoreis que os reis dos gentios têm poder e domínio sobre seus súditos e que até são chamados benfeitores.

No Reino dos Céus não será assim. Se algum de vós quer ter a preferência, que saiba renunciar ao privilégio hierárquico da idade. E se outro deseja ser chefe, que se torne servidor. Quem é maior: aquele que se senta a comer ou aquele que serve? Não se considera o primeiro como principal? E, todavia, observai que eu estou entre vós como aquele que serve...

Em verdade, em verdade vos digo que se assim agirdes, fazendo comigo a vontade de meu Pai, então tereis um lugar, ao meu lado, no poder.

A voz do Mestre voltou a soar, anunciando, pública e oficialmente, a traição do Iscariotes:

Já vos disse o quanto desejava celebrar esta ceia convosco... E sabendo de que forma as demoníacas forças das trevas têm conspirado para levar à morte o Filho do Homem, tomei a decisão de cear convosco, nesta casa, em segredo, e um dia antes da Páscoa, já que amanhã, a esta mesma hora, não estarei convosco.

...Repetidas vezes vos disse que devo voltar ao Pai. Agora é chegada minha hora, ainda que não fosse necessário que um de vós me traísse e me pusesse em mãos de meus inimigos.

Silêncio total. Por fim, um após outro, temerosamente, formulou a mesma pergunta: - Serei eu? O único que não fez a pergunta foi Judas...

É necessário que eu vá ao Pai. Mas, para cumprir sua vontade, não era preciso que um de vós se convertesse em traidor. Isso é fruto da maldade de alguém que não conseguiu amar a Verdade... Que enganoso é o orgulho que precede a queda espiritual! Um velho amigo, que, por sinal, come neste momento de meu pão, está desejoso de trair-me. Mesmo agora que junta sua mão à minha, no prato.

Judas – reclinado à esquerda do Mestre – perguntou, por sua vez, ainda que em tom dificilmente perceptível para outros: Serei eu?
Tu o disseste!

João Zebedeu, em tom confidencial: Quem é?... Devemos saber quem é infiel à sua crença.
Já vos disse: aquele a quem dou o pão molhado...

Simão Pedro: Pergunta-lhe quem é! Ou, se já te disse, diz-me quem é o traidor.

Lamento que este mal tenha chegado a prosperar. Esperava, mesmo até a esta hora, que o poder da verdade triunfasse sobre os ardis do mal. Mas essas vitórias não se conquistam sem a fé e um sincero amor pela Verdade. Não vos teria dito isso em nossa última ceia se não fosse pelo meu desejo de advertir-vos e preparar-vos acerca do que está agora sobre nós... Falei-vos disto porque desejo que recordeis, depois da minha partida, que eu sabia de todas estas malvadas conspirações e que vos adverti da traição. E só faço para que possais ser mais fortes diante das tentações e julgamentos que temos bem à frente.

Dirigiu-se a Judas, imperativamente: O que decidiste fazer... faze-o depressa. O Galileu pôs-se de pé e todos os outros o imitaram. Após uma breve pausa, Jesus abençoou a taça.

Tomai esta taça e bebei todos dela... Esta será a taça de minha recordação. Esta é a taça da bênção de um novo desígnio divino de graça e verdade. Este será o símbolo da outorga e do ministério do divino Espírito da verdade. Já não beberei convosco até que o faça de uma nova forma, no Reino eterno de meu Pai.

Tomai este pão e o comei. Afirmei-vos que sou o Pão da Vida, que é a Vida unificada do Pai e do Filho em um só dom. A palavra do Pai, tal como foi revelada pelo Filho, é realmente o Pão da Vida. Quando fizerdes estas coisas, recordai a vida que tenho vivido na terra e regozijai-vos porque continuarei vivendo convosco. Não luteis para averiguar quem é o maior entre vós. Sede como irmãos. E quando o Reino crescer até alcançar numerosos grupos de fiéis, não luteis tampouco por essa grandeza ou por buscar acesso entre tais grupos. E, sempre que fizerdes isso, fazei-o em minha memória. E quando lembrardes de mim, primeiro olhai para trás: minha vida na carne. E lembrai que uma vez estive convosco. Então, pela fé, percebereis que todos ceareis comigo no Reino eterno do Pai. Esta é a nova Páscoa que vos deixo: a palavra da Verdade Eterna, meu amor por vós e o derramamento do Espírito sobre a carne...

A um aceno do Mestre, os onze se levantaram e entoaram o Salmo 118: Aleluia!

Dai graças a Yaveh, porque é bom, porque é eterno em seu amor...! Yaveh está por mim, não tenho medo, que pode fazer-me o homem?... A Pedra que os construtores rejeitaram em pedra angular se converteu: esta foi a obra de Yaveh...

Recordai bem quando vos enviei sem bolsa nem carteira e até vos adverti que não levásseis roupa de muda. Todos deveis lembrar de que nada vos faltou. Todavia, agora os tempos são difíceis.

Já não podeis depender da boa vontade das multidões. Portanto, doravante, aquele que tiver bolsa que a leve. Quando sairdes para o mundo a proclamar este Evangelho, fazei provisão para vosso sustento, como melhor vos aprouver. Vim trazer a paz, mas, por um tempo, esta não surgirá.

Chegou o tempo em que o Filho do Homem será glorificado, assim como o Pai será glorificado nele.

Meus amigos: vou estar convosco só um pouco mais. Logo ireis me procurar mas não me achareis, pois vou para um lugar ao qual hoje ainda não podeis vir. Quando tiverdes terminado vosso trabalho na Terra, como eu concluí o meu, então vireis a mim da mesma forma que eu me preparo para ir ao Pai. Em muito pouco tempo vos deixarei... Não me vereis mais na Terra, mas todos
me vereis no tempo vindouro, quando ascenderdes ao Reino que meu Pai me deu.

Quando vos narrei uma parábola, mostrando que deveis estar ansiosos por servir uns aos outros, também vos disse que estou prestes a vos deixar. Conheceis bem o mandamento que ordena amar-vos uns aos outros e ao vosso próximo como a vós mesmos...

Entretanto, não estou de todo satisfeito, nem mesmo com essa sincera devoção por parte de meus filhos. Quero que façais maiores atos de amor no reino da irmandade dos fiéis. Por isso, eis aqui meu novo mandamento: que vos amei uns aos outros como eu vos amei.

Se assim o fizerdes, os homens saberão que sois meus discípulos. Com este novo mandamento não sobrecarrego vossas almas com um novo peso. Ao contrário: trago-vos nova alegria e torno possível que experimenteis um novo prazer, ao conhecerdes as delícias da doação, pelo amor, para o vosso próximo. Eu próprio estou prestes a experimentar o supremo regojizo (ainda que suportando uma pena exterior), com a entrega de meu afeto por vós e pelos demais mortais.

Quando vos convido a amar-vos uns aos outros como eu vos amei, apresento-vos a suprema medida do verdadeiro afeto. Nenhum homem pode alcançar um amor superior a este: o de dar a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos e continuareis sendo se apenas desejardes fazer o que vos ensinei. Tendes me chamado de Mestre, mas eu não vos chamo de servidores. Se vos amardes uns aos outros como eu vos amo, então sereis meus amigos e eu vos falarei alguma vez daquilo que meu Pai me revelou. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu. E tenho vos ordenado sairdes pelo mundo para entregardes o fruto do serviço amoroso a vossos semelhantes, da mesma forma como vivi entre vós e vos revelei meu Pai. Ambos trabalharemos convosco e experimentareis a divina plenitude da alegria se vos limitardes a obedecer a este novo mandamento:

amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

Se compartirdes o regozijo do Mestre, deveis compartir seu amor. E compartir seu amor significa que compartirtes seu serviço. Tal experiência de amor não vos libera das dificuldades deste mundo. Mas, com certeza, faz “novo” o velho mundo...

Lembrai: o que vos peço é lealdade. Não sacrifício. A consciência de sacrifício implica a ausência desse afeto incondicional que faria do serviço amoroso uma suprema alegria. A idéia de obrigação significa que, mentalmente, vos converteis em servidores, com isso perdendo a poderosa sensação de praticar vosso serviço como amigos e para os amigos. A amizade transcende o significado da obrigação e o serviço de um amigo para outro jamais deve ser qualificado como sacrifício. O Mestre vos ensinou que sois filhos de Deus. Chamou-vos irmãos. E agora, antes de partir, vos chama de amigos. Sou a verdadeira cepa e meu Pai, o lavrador. Eu sou a videira e vós, os ramos. Todos os ramos que brotam de mim e que não dão frutos, meu Pai arrancará.

Em compensação, aqueles que trouxerem frutos, o Pai limpará para que multipliquem sua riqueza.

Já estais limpos, por meio das palavras que vos tenho dirigido, mas deveis continuar limpos.

Deveis morar em mim e eu em vós. Se for separado da cepa, o ramo fenecerá. Assim como o ramo não pode ter frutos se não mora na vinha, assim vós não podereis render os frutos do amor se não
morardes em mim. Lembrai: eu sou a verdadeira cepa e vós os ramos vivos.

Aquele que vive em mim e eu nele, dará muito fruto e experimentará a suprema alegria da colheita espiritual. Se mantiverdes este vínculo vivencial e espiritual comigo, os vossos frutos serão abundantes. Se morardes em mim e minhas palavras morarem em vós, podereis comunicar-vos livremente comigo. Então, meu Espírito vivente vos infundirá de tal forma que podereis pedir o que quiserdes. O Pai avalizará vossa petição. Assim o Pai é glorificado. Que a cepa tenha muitos ramos vivos e que cada ramo proporcione muitos frutos. Quando o mundo vir esses ramos vivos e carregados de fruto (quer dizer, meus amigos que se amam como eu os amei), os homens saberão, então, que em verdade sois meus discípulos. Como meu Pai me tem amado, assim vos tenho amado. Vivei em meu amor, como eu vivo no amor de meu Pai. Se fizerdes como vos ensinei, morareis em mim e, como vos prometi, no amor do Pai. Quando vos houver deixado, não vos desalenteis diante da hostilidade do mundo. Não vos deixeis abater até quando crentes de coração débil se voltarem
contra vós, e unirem suas mãos às dos inimigos do reino. Se o mundo vos odiar, lembrai que me odiou antes de vós. Se fôsseis deste mundo, então o mundo estaria amando o que é seu.

Mas, como não sois, o mundo nega-se a vos amar. Estais nesse mundo, mas vossas vidas não devem ser deste mundo. Eu vos escolhi dentro do mundo para representardes o espírito do outro mundo.

Lembrai sempre de minhas palavras: o servidor não é maior que seu amo. Se se atreverem a perseguir-me, também vos perseguirão. Se minhas palavras ofendem os não-crentes, também as vossas ofenderão aqueles sem Deus. Farão tudo isto a vós porque não crêem em mim nem naquele que me enviou. Por isso sofrereis muitas coisas em nome do meu Evangelho. Mas, ao suportardes essas
atribulações, lembrai que também eu sofri, antes de vós, em nome deste Evangelho do Reino Celestial.

Muitos daqueles que vos atacarão ignoram a Luz do céu. Isto, em compensação, não é assim para alguns que agora nos perseguem. Se não lhes tivéssemos ensinado a Verdade poderiam fazer coisas estranhas, sem cair na condenação. Mas agora, depois que conheceram a Luz e a repeliram, não têm justificativa para a sua atitude. Aquele que me odeia, odeia meu Pai. Não pode ser de outro
modo. Da mesma forma que a Luz os salvará, se eles a aceitarem, os condenará se, conhecendo-as, eles a rejeitarem. E que foi que eu fiz para que esses homens me odeiem com tanto afinco?

Nadam salvo oferecer-lhes a irmandade na Terra e a salvação no céu. Acaso não lestes na Escritura: “E me odiarão sem uma causa?”

Mas não vos deixarei sós no mundo. Logo depois que me for, vos enviarei um Espírito auxiliador. Tereis então convosco alguém que tomará o meu lugar. Alguém que continuará ensinando o caminho da Verdade e que também vos consolará.

Não permitais que vossos corações se perturbem. Crede em Deus. Continuai crendo também em mim. Embora deva deixar-vos, nãoestarei longe de vós. Já vos disse que no Universo de meu Pai há muitas moradas onde ficar. Se não fosse verdade não teria eu falado repetidamente sobre isso.
Vou retornar a esses mundos de luz: paragens, no céu do Pai, às quais algum dia ascendereis.

Desses lugares vim ao mundo e agora é chegado o momento em que devo voltar ao trabalho de meu Pai nas esferas do alto. Portanto, se vou antes de vós ao Reino Celestial do Pai, podeis estar certos de que intercederei por vós para que possais estar comigo nas moradas que foram preparadas para os filhos mortais de Deus antes que existisse esse mundo...

Embora deva deixar-vos, continuarei presente em espírito. No final estareis comigo quando tiverdes subido até mim, em meu Universo, assim como eu estou prestes a ascender até meu Pai, a seu Universo maior. E o que vos digo é eterno e verdadeiro, mesmo que agora não o compreendais totalmente. Eu vou ao Pai, e se agora não podeis seguir-me, certamente o fareis no futuro.

Tomé: Mestre, não sabemos aonde vais. Não conhecemos o caminho. Mas se o mostrares, nesta mesma noite te seguiremos...

Tomé, eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão através de mim. Todos que encontram o Pai, primeiro encontram a mim. Se me conheceis, conheceis o caminho para o Pai. E vós me conheceis porque tendes vivido comigo e me estais vendo.

Felipe: Mestre, mostra-nos o Pai e tudo que disseste ficará claro.

Felipe, estive tanto tempo contigo e ainda não me conheces? De novo declaro-vos: quem tiver visto a mim terá visto o Pai. Como então podes me dizer “mostra-nos o Pai?” Não crês que estou no Pai e Ele em mim. Não vos ensinei que as palavras que digo não são minhas, mas do Pai? Eu falo pelo Pai e não por mim mesmo. Estou neste mundo para fazer sua vontade e isso tenho feito.
Meu Pai mora em mim e atua através de mim. Acreditai em mim quando digo que o Pai está em mim e eu nele. Ou acreditai ao menos em nome da vida que tenho levado e em nome de minhas obras.

Quando eu tiver ido ao Pai, de depois que Ele aceitar o trabalho que fiz na Terra por vós, e que eu receber a soberania final do meu próprio domínio, então direi a meu Pai: “Deixei meus filhos sozinhos na terra e, conforme minha promessa, envio-lhes outro Mestre”. E quando o Pai aprovar isso, verterei o Espírito da verdade sobre toda a carne. O Espírito de meu Pai já está em vossos corações; e, quando chegar esse dia, também me tereis convosco, assim como agora tendes o Pai.

Este novo dom é o Espírito da verdade viva. Aqueles que não creram, não puderam ouvir seus ensinamentos, mas os Filhos da Luz os receberão com prazer e de todo o coração. E conhecereis esse Espírito quando ele vier, da mesma forma que me conhecestes. E recebereis esse dom em vossos corações e Ele morará em vós. Percebeis, pois, que eu não vou deixar-vos sem ajuda e sem
guia? Não vos deixarei na desolação. Hoje só posso estar convosco em pessoa.

Nos tempos vindouros, estarei convosco e com todos os homens que desejem minha presença, onde quer que estejam, e com cada um ao mesmo tempo. Não percebeis que é melhor que eu vos deixe em carne para que possa estar convosco em espírito?

Dentro de poucas horas o mundo não me verá mais. Mas continuareis me conhecendo em vossos corações, até que vos envie novo mestre: o Espírito da verdade. Assim como tenho vivido convosco em pessoa, assim viverei então em vós: serei uno com vossas experiências pessoais no reino do espírito. E, quando chegar o momento de isto acontecer, tereis certeza de que eu estou no Pai e que, enquanto vossa vida estiver guardada com o Pai em mim, eu também estarei convosco. Tenho amado o Pai e mantido sua palavra. Vós me amastes e mantereis minha palavra. Assim como meu Pai deu-me seu Espírito, assim vos darei o meu. E este Espírito da Verdade que eu vos outorgarei irá vos guiar e confortar e, no final, vos conduzir à Verdade toda.

Eu vos digo essas coisas para que possais preparar-vos melhor e suportar bem as provas que vos aguardam. Quando esse novo dia chegar, sereis habitados pelo Filho e pelo Pai. E esses dons do céu trabalharão sempre um com o outro, do mesmo modo que o Pai e eu forjamos sobre a terra, diante de vossos olhos, o Filho do Homem, como uma só pessoa. Esse Espírito amigo vos lembrará tudo que vos tenho ensinado.

O gêmeo Judas de Alfeu: Mestre, tens sempre vivido entre nós como um amigo. Como te reconhecemos quando já não te manifestares a nós senão por meio desse Espírito? Se o mundo não te vê,como estaremos certos de ti? Como te mostrarás a nós?

Meus filhos, eu estou partindo. Volto ao Pai. Dentro de muito pouco já não me vereis como o fazeis agora, como carne e sangue. E em muito pouco tempo vos enviarei meu Espírito, que é igual a mim, exceto por este corpo físico. Esse novo Mestre é o Espírito da verdade, que viverá com cada um de vós, em vosso coração. Portanto, todos os Filhos da Luz serão um. Dessa forma, tanto meu Pai como eu poderemos viver na alma de cada um de vós e também no coração dos outros homens que nos amam e que fazem desse amor realidade, amando-se uns aos outros como eu agora vos estou amando. Digo-vos tudo isso – repetiu pela enésima vez – para que possais estar preparados para o que vos aguarda e não caiais em erro. As autoridades não se satisfarão em jogar-vos fora das sinagogas. Eu vos aviso: avizinha-se a hora em que aqueles que vos matarem o farão acreditando que estão prestando um serviço a Deus. Farão tudo isso porque não conhecem o Pai. E têm se recusado a me receber... E quando vos rechaçam, eles se recusam a me receber. Conto-vos essas coisas antecipadamente para que, quando chegar vossa hora, como chegou agora a minha, possais reconfortar-vos ao lembrar de que tudo era conhecido e que meu Espírito estará convosco em vossos sofrimentos. É com este fim que venho falando tão claramente desde o início. Até vos adverti de que os inimigos de um homem podem ser de sua própria casa. Ainda que este Evangelho do Reino jamais deixe de trazer grande paz à terra até que o homem se mostre desejoso de crer nos meus ensinamentos com todo o seu coração, estabelecendo a prática de fazer a vontade do Pai como o propósito principal de toda vida mortal.

E agora que vos deixo, vendo que é chegada a hora em que estou pronto para ir ao Pai, estou surpreso de que nenhum de vós me tenha perguntado: “Por que tu nos deixa?” De qualquer forma, sei que fazeis essa pergunta em vossos corações. Falar-vos-ei com clareza. Como um amigo a outro...

...É, na verdade, proveitoso para vós que eu parta. Se não me fosse, o novo Mestre não poderia vir a vossos corações. Devo ser despojado deste corpo mortal e restituído a meu lugar, no alto, antes de poder enviar esse Espírito que será o vosso Mestre. E quando meu Espírito vier morar em vós, Ele fará luz sobre a diferença entre o pecado e a retidão e vos fará capazes de julgar
sabiamente.

Tenho ainda muito que vos dizer, mas vejo que já não suportais mais ficar em pé. Quando o Espírito vier, Ele vos conduzirá finalmente a toda a Verdade, fazendo-vos passar pelas muitas moradas do Universo de meu Pai. Esse Espírito não falará de si próprio. Mostrar-vos-á o que o Pai revelou ao Filho e também as coisas que estão por vir. Ele me glorificará, assim como o tenho feito com meu Pai. Ele virá depois de mim e vos revelará minha verdade. Tudo que o Pai
tem, nesse domínio, agora é meu. Portanto, esse novo Mestre irá tomar do que é meu e vos manifestar. Dentro de muito pouco tempo vos deixarei, se bem que por pouco tempo. Depois, quando voltardes a me ver, já estarei a caminho de meu Pai. E não me vereis por muito tempo.

Perguntais o que quis dizer quando falei que dentro em pouco já não estaria convosco e que, quando me virdes outra vez, estaria a caminho de meu Pai?

Falei-vos claramente. O Filho do Homem deve morrer, mas voltará a se erguer.

Será que não podeis discernir o significado de minhas palavras? Primeiro ireis vos lamentar. Mais tarde, quando já tiverem acontecido essas coisas, ireis vos regozijar com todos aqueles que os compreenderem. Uma mulher fica verdadeiramente aflita na hora do parto. Mas, uma vez livre do filho, esquece de imediato sua angústia diante da alegria de saber que trouxe um homem ao mundo.

E assim estais: prestes a afligir-vos com minha partida. Mas logo voltareis a me ver e também podereis pedir em meu nome, e eu vos ouvirei. Aqui embaixo tenho vos ensinado em provérbios e vos falado em parábolas. Procedi assim porque sois apenas crianças no espírito. Mas é chegado o tempo em que vos falarei claramente a respeito do Pai e de seu reino. E o farei porque o próprio Pai vos ama e deseja ver-se claramente revelado a vós. O homem mortal não pode ver o Pai Espírito. Por isso vim ao mundo: para mostrá-lo a vós. Quando o crescimento do espírito vos aperfeiçoar, então vereis o Pai. Enquanto permanecer convosco, sob a forma carnal, não posso ser mais do que um indivíduo no meio do mundo. Mas quando tiver sido liberado desta veste de natureza mortal, poderei viver como Espírito e morar em cada um de vós e nos outros que crêem neste Evangelho do Reino. Assim, o Filho do Homem se tornará uma Encarnação Espiritual na alma de todos os verdadeiros fiéis.

Quando tiver voltado a vós em Espírito poderei guiar-vos melhor através desta vida e das muitas moradas da vida futura, no céu dos céus. A vida na eterna criação do Pai não é um repouso, uma ociosidade sem fim, ou uma comodidade egoísta, e sim uma incessante progressão em graça, verdade e glória. Cada uma das inúmeras moradas da casa de meu Pai é um lugar de passagem, uma vida
projetada para vos servir de preparação para a seguinte. E assim os Filhos da Luz seguirão de glória em glória até alcançar o estado divino, no qual serão espiritualmente perfeitos, tal qual o Pai é perfeito em todas as coisas. Se me seguirdes quando vos deixar, ponde vossos mais ardentes esforços em viver de acordo com o espírito de meus ensinamentos e com o ideal de minha
vida: fazer a vontade de meu Pai. Fazei isso em lugar de tentar imitar minha natural vida carnal...

O Pai me enviou a este munbdo, mas só poucos escolheram receber-me plenamente. Verterei meu Espírito sobre toda a carne, mas nem todos os homens escolherão receber esse novo Mestre como guia e consolo de sua alma. Mas o Espírito da Verdade se transformará neles em fonte de água viva, jorrando a vida eterna.

E agora, já que estou a ponto de vos deixar, quero transmitir-vos palavras de consolo. Deixo-vos a paz. Dou-vos minha paz. E dou esses dons, não como os dá o mundo, gradualmente. Dou a cada um de vós tudo que fordes capaz de receber. Não permitais que vosso coração se perturbe ou se mostre temeroso. Eu venci o mundo e em mim todos vós triunfareis pela fé. Já vos adverti que o
Filho do Homem será morto, mas asseguro-vos que voltarei antes de ir ao Pai, mesmo que seja apenas por pouco tempo. E, depois que houver ascendido ao Pai, com certeza enviarei o novo Mestre para que habite em vossos próprios corações. E quando virdes que chegou o momento em que tudo isso ocorre, não vos consterneis. Crede. Tanto mais que já o sabíeis por antecipação. Amei-vos com todo afeto e não vos deixaria. Mas é a vontade do Senhor meu Pai. Minha hora é chegada.

Não duvideis dessas verdades, mesmo que vos acheis dispersos pelo estrangeiro, por causa das perseguições, ou abatidos por muitas penas. Quando vos sentirdes sós no mundo, eu saberei da vossa solidão, da mesma forma que vós sabereis da minha quando deixardes o Filho do Homem nas mãos de seus inimigos. A diferença é que eu nunca estou só. O Pai sempre está comigo.

Mesmo nesses momentos rogarei por vós. Disse-vos todas essas coisas para que possais ter paz e a tenhais abundantemente. Neste mundo tereis atribulações mas conservai o bom humor. Eu venci o mundo e mostrei-vos o caminho para a alegria eterna e para o serviço eterno. Não deixeis que vosso coração se obscureça... nem vos deixeis sentir medo.


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JcShow

O que é ser Voluntário!

Acordemos

É sempre fácil examinar as consciências alheias, identificar os erros do próximo, opinar em questões que não nos dizem respeito, indicar as fraquezas dos semelhantes, educar os filhos dos vizinhos, reprovar as deficiências dos companheiros, corrigir os defeitos dos outros, aconselhar o caminho reto a quem passa, receitar paciência a quem sofre e retificar as más qualidades de quem segue conosco... Mas enquanto nos distraimos, em tais incursões a distância de nós mesmos, não passamos de aprendizes que fogem, levianos, à verdade e à lição. Enquanto nos ausentamos do estudo de nossas próprias necessidades, olvidando a aplicação dos princípios superiores que abraçamos na fé viva, somos simplesmente cegos do mundo interior relegados à treva... Despertemos, a nós mesmos, acordemos nossas energias mais profundas para que o ensinamento do Cristo não seja para nós uma bênção que passa, sem proveito à nossa vida, porque o infortúnio maior de todos para a nossa alma eterna é aquele que nos infelicita quando a graça do Alto passa por nós em vão!... Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caridade. Ditado pelo Espírito André Luiz. Araras, SP: IDE. 1978.