segunda-feira, 2 de agosto de 2010

21 de Abril, Sexta-Feira


Aparição a Jasão, cerca de duas horas antes do amanhecer.

Não te preocupes em saber “como”. Em vez disso, meu querido e assustado Jasão, pergunta “por quê?”...

Existem realidades que dificilmente poderão ser provadas pela Ciência ou pelas deduções da razão pura. Ninguém pode conceber essas verdades enquanto permanecer no reino da experiência humana.

Quando tiverdes acabado aqui embaixo, quando houverdes completado vosso tempo de prova da carne,
quando o pó que forma o tabernáculo mortal for devolvido à terra de que procede, então, só então, o Espírito que vos habita retornará ao Deus que vô-lo concedeu e tua pergunta ficará plenamente respondida.

Então, é certo que a morte é apenas uma passagem?

Tão natural e obrigatória quanto a calma que sucede à tempestade. Mas os homens da Ciência não crêem...

A corrente de ferro da Verdade, que vós qualificais de invariável, vos mantém cegos em um círculo vicioso. Tecnicamente pode-se ter razão nos fatos e, no entanto, estar eternamente equivocado sobre a Verdade. Eu sou a Verdade. Tu me tocaste e agora me vês e escutas minha palavra. Por que continuas duvidando?

O fato de não compreenderes não significa que essa realidade superior seja uma quimera ou fruto de mentes visionárias. Quando chegar a tua hora, meus anjos ressuscitadores te despertarão em um mundo que nem sequer podes intuir.

Teus anjos ressuscitadores?

Tu, querido amigo, à tua maneira, já respondeste a essa pergunta: em meu Reino há muitas moradas...E uma delas é passagem obrigatória para os mortais que procedem dos mundos evolucionários do tempo e do espaço.

E tu, também foste ressuscitado?

Não, meu filho. Acabo de dizer-te que eu sou a Vida. Meus anjos, não a meu pedido, só dispuseram de meu envoltório carnal. Mas o poder de ressuscitar no Espírito é um dom que só devo ao Pai.

Algum dia, quando passares para o outro lado, o compreenderás.

Desculpa a minha ignorância. Se não entendi mal, nenhum dos seres humanos tem o poder de auto-ressuscitar-se...

Assim é. Todavia, podeis desfrutar a esperança de que ninguém, ninguém pode perder esse direito. Todos, como eu o fiz, despertareis para uma vida que é só o princípio de uma longa caminhada para o Paraíso. Uma continuada ascensão para o Pai Universal. Uma “viagem”... sem retorno.

Que queres dizer com isso de que teus anjos apenas dispuseram de teu invólucro carnal?

Eu te disse, mas, em tua perplexidade, não escutaste minhas palavras... Eu sou a Vida! Em verdade te digo que nenhuma de minhas criaturas pode devolver-me o que é meu e que só compartilho com meu Pai. Meus discípulos e a maioria dos homens dos tempos vindouros têm associado e associarão a maravilhosa realidade da volta à vida eterna e espiritual com a mera desaparição de meu corpo terrestre. Enganaram-se. A desintegração deste envoltório carnal foi um
fenômeno posterior à minha verdadeira ressurreição. Um fenômeno necessário, fruto do poder de meus anjos.

Desintegração? Todo mundo pensa que a desaparição do corpo foi um milagre...

A ti, isso pode ser dito. Os milagres, tal como os concebem muitos seres humanos, não existem. O poder de meu Pai é tão imenso que não necessita alterar a ordem das coisas criadas. O verdadeiro milagre é vossa cega crença nos milagres.

Continuo sem entender. Esse cadáver volatizou-se... Será que teus anjos conhecem uma técnica?...

Tu o disseste. Mas, tal qual ocorre com vosso código moral, o código dessas criaturas a meu serviço tampouco deve ser violado. Sei que compreendes. Não é o lugar nem o momento para fazê-lo.

Desculpa minha curiosidade. Tem essa “técnica” alguma coisa que ver com a manipulação do tempo que nós mesmos estamos utilizando?

Quando compreendereis que o tempo é apenas a imagem em movimento da Eternidade? Quanto mais precisareis para considerar que o espaço é tão somente a sombra fugidia das realidades do Paraíso?

Vós vos orgulhais de vossas descobertas e pensais que a Verdade Absoluta está ao vosso alcance.

Não compreendeis que sois como meninos recém-chegados a uma ordem imensamente velha e inconcebivelmente sábia.

E tu, Mestre, que lugar ocupas nessa ordem?

Sou um Filho do Criador. Não queiras agarrar o que ainda é invisível a teus olhos de mortal.

Bastar-te-á a fé na existência do Pai. Muitas de minhas criaturas, apesar de haver transposto a barreira da morte, também não estão preparadas para enfrentar, face a face, a luz cegante do Pai Universal.

Tudo parece tão simples!... Falas da morte sem medo. Mas nós...

Vós fazeis empenho em apagar a “luz” que bate em cada coração e que foi depositada aí precisamente para vencer o medo. Se os homens escutassem sua própria voz, ninguém temeria essa passagem.

Por que crês que voltei? É preciso que uns poucos me vejam agora para que outros muitos creiam e
aprendam a olhar para si mesmo. A morte, meu filho, é só uma porta. Não temais cruzá-la.

Alguns seres humanos temem a incógnita do “depois” da morte do que o fato físico da morte...

Esses, no escandaloso troar de suas dúvidas, silenciam a íntima e sábia “voz” de sua consciência. Deixai que seja ela quem vos guie. Tudo, na criação de meu Pai, está meticulosa e misericordiosamente disposto para o vosso bem. Ninguém morre. Tudo é contínuo progresso para o Paraíso. E nem sequer esse é o fim...

Mas as religiões e algumas igrejas pregam a salvação e a condenação...

Não meças nosso Pai Universal com a vara dos homens. Nem confundas a religião da autoridade com a do Espírito. Algum dia, todos os mortais compreenderão que só o caminho da experiência e da busca pessoal é digna da “centelha” divina que alimenta cada um de vós. Até que as raças não evoluam, o mundo assistirá a essas cerimônias religiosas, infantis e supersticiosas, tão características dos povos primitivos. Enquanto a humanidade não alcançar um nível superior, assim reconhecendo as realidades da experiência espiritual, muitos preferirão as religiões autoritárias, que só exigem a concordância intelectual. Essas religiões da mente, apoiadas na autoridade das tradições religiosas, oferecem um cômodo refúgio às almas confusas ou assediadas pelas dúvidas e pela incerteza.

O preço a pagar por essa falsa e sempre provisória segurança é o fiel e passivo assentimento intelectual a “suas” verdades. Durante muitas gerações, a Terra acolherá mortais tímidos, temerosos e vacilantes, que preferirão esse tipo de “pacto”. E eu te digo: ao unir teus destinos ao das religiões da autoridade, colocarão em risco a sagrada soberania de tuas personalidades, renunciando ao direito de participar da mais apaixonante e vivificante de todas as experiências humanas: a busca pessoal da Verdade e tudo quanto isso significa...

E que representa essa “busca pessoal”?

E tu, embarcado nesta apaixonante aventura, me perguntas isso? Que me dizes da alegria e das emoções que compensam todo o esforço exigido pelas vossas descobertas? Não valeu a pena?

Os descobrimentos intelectuais, meu amigo, constituem sempre uma “aventura” e um risco. Mas só os audazes, os que obedecem ao seu próprio “eu”, estão capacitados para enfrentar isso. Só esses, os autênticos “buscadores” da Verdade, sabem explorar com determinação e sem medo as realidades da experiência religiosa pessoal. Tu mesmo e teu irmão estais experimentando a
suprema satisfação do triunfo da Fé sobre as dúvidas intelectuais!

E essas vitórias, único objetivo da existência humana, só conduzem a um fim: a busca pessoal de Deus. Em verdade, em verdade te digo que todo homem que se empenhe nessa suprema aventura encontrará o Pai, até mesmo no desalento das dúvidas. A religião do Espírito significa luta, conflito, esforço, amor, fidelidade e progresso. O dogmatismo, ao contrário, só exige de seus fiéis uma parte ínfima desse esforço.

Não esqueças, Jasão, que a tradição é o caminho fácil e um refúgio seguro para as almas fracas e temerosas, incapazes de afrontar as lutas do espírito e da incerteza. Os homens de fé viajam sempre pelos difíceis oceanos, à busca de novos horizontes. Os submissos limitam-se a navegar pela costa ou a fundear suas inquietudes ao abrigo de portos limitados, inadequados a “navios” construídos para audazes e distantes singraduras...

Essas palavras, em meu tempo, te levariam de novo à morte...

Não esqueças que minha passagem pelo mundo será motivo de divisão e confrontação...

Diz-me: que deve fazer um homem que deseja encontrar a Verdade?

Nem mesmo tu compreendeste minha mensagem? Confiar em nosso Pai. Só isso. Cada amanhecer, cada momento de tua vida, põe-te em suas mãos. Luta pela fraternidade entre os humanos. Luta pela tolerância e pela justiça. Luta pelos fracos. Ele se encarregará do resto.

O Pai! Deve ser um grande homem!

É tão imenso, que mede os mares na concha de sua mão e os universos na distância de um palmo!

É Ele quem está sentado na órbita da Terra. É Ele quem estende os céus como um manto e lhes põe ordem para que sejam habitados.

Mas não confundas: Deus é um mero símbolo verbal, que designa todas as personalidades da divindade... Não esqueças que uma parte desse Deus, de nosso Pai, entrou em ti há muitos anos.

Quando?

Digamos, para simplificar, que no momento em que tomaste tua primeira decisão moral.

Então eu sou Deus?

Tu o disseste. E a partir de hoje busca-te no mais íntimo de tua alma.

Como te chamas?

Em meu reino, minhas criaturas me conhecem por Micael.

E por que não adotaste esse mesmo nome na Terra?

A princípio, por expresso desejo meu, nem eu mesmo tomei consciência de quem era aquele jovem de Nazaré. Assim o exigia minha experiência entre os humanos evolucionários do tempo e do espaço.

Só uns poucos, muito chegados a Micael, souberam desse segredo e o guardaram ciosamente. Meu nome na Terra tinha de ser outro. Satisfeito?

Então, tu, durante tua infância e juventude, nunca soubeste... Então, quando?...

Isso, querido Jasão, é algo que devereis descobrir por vós mesmos... em seu momento.

Por que falas de “minha experiência entre os humanos”?

E que outra coisa posso dizer?

Experiência? Só isso?

Segundo tu, como deveria qualificá-la?

De desperdício. Um desperdício, se me permites, desnecessário, e, a julgar pelos resultados próximos e “futuros”, catastrófico.

O Soberano Criador deste Universo também faz a vontade do Pai. Uma vez satisfeita minha sede de conhecimento dos humanos, pude abandonar o mundo e receber do Pai Universal o definitivo reconhecimento de minha soberania.

Mas, como te disse, não era essa a vontade do Pai.

Queres dizer que o Pai podia desejar para ti uma morte tão cruel e sanguinária?

Antes de minha Encarnação na terra os homens podiam crer em um Deus colérico, sedento de justiça. Sua ignorância era perdoável. Agora revelei-lhes um Pai misericordioso que só conhece a palavra Amor. Crês, então, que um Pai pode desejar essa morte para um filho? Sua vontade era que eu permanecesse em vosso mundo até o final e que esgotasse o cálice que todos os mortais, por
sua natureza, têm bebido e beberão. Se eu concordei com a morte foi para demonstrar-vos que a fé em Deus nunca é estéril.

Sei que, apesar de minhas palavras, muitos deformarão o sentido de minha morte na cruz. Eu não vim ao mundo para saldar uma suposta velha conta dos homens para com Deus. Sei o que estás pensando. Estás enganado, como se enganam todos os que assim pensam. O Pai Celestial não pode conceber jamais a grave injustiça de condenar uma alma pelos erros dos seus antepassados.

Então, essas idéias dos cristãos sobre a redenção pela cruz...

A tendência ao vício pode ser hereditária. O pecado, ao contrário, não se transmite de pais a filhos. O pecado é um ato consciente e deliberado de rebeldia contra a vontade de nosso Pai Universal e contra as leis do Filho. Toda idéia de resgate ou expiação, portanto, é incompatível com o conceito de Deus.

O amor infinito do nosso Pai ocupa o primeiro posto dentro da natureza divina.

Em verdade te digo, Jasão, que o senso de salvação pelo sacrifício está arraigado no egoísmo. Eu tenho pregado que a vida de serviço é o conceito mais elevado de fraternidadeentre os que crêem.

E te direi mais: a salvação é crer na paternidade de Deus. A maior preocupação dos fiéis do Reino não deveria ser seu desejo egoísta de salvação pessoal. Só a necessidade de amar os seus
semelhantes acima de si mesmos. Os autênticos crentes não se preocupam com o possível e futuro castigo de seus erros. Interessam-se tão somente pelo restabelecimento do contato com Deus.

Decerto um pai pode castigar seus filhos, mas o faz por amor e com um objetivo e um sentido puramente disciplinares.

Logo, há um castigo futuro...

Não como tu o imaginas. Nosso Pai é amor. E o amor é contagiante e eternamente criador. Crês que não existem outros meios melhores do que o castigo para corrigir os erros das limitadas criaturas mortais?

Antes de eu vir a este mundo (e até mesmo se eu não tivesse vindo), todos os mortais do Reino
dispunham já da salvação. Nosso Pai, repito, não é um monarca ressentido, severo e implacável, cujo principal prazer consiste em localizar e perseguir criaturas que agem na obscuridade ou no pecado. A própria idéia de um resgate ou expiação colocaria a salvação em um plano de irrealidade. Esse conceito é puramente filosófico. A salvação humana é inegável e se baseia em dois únicos princípios: Deus é nosso Pai e, conseqüentemente, todos os homens são irmãos.

Quando isso ocorrerá? Quando desaparecerão a maldade e a injustiça?

Só há um caminho: o amor. O amor dissolve o pecado e as fraquezas. Ama teu semelhante, Jasão!

Ama-o na penúria e na riqueza! Ama-o ainda quando creias que ele esteja errado! Ama-o, simplesmente!

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É sempre fácil examinar as consciências alheias, identificar os erros do próximo, opinar em questões que não nos dizem respeito, indicar as fraquezas dos semelhantes, educar os filhos dos vizinhos, reprovar as deficiências dos companheiros, corrigir os defeitos dos outros, aconselhar o caminho reto a quem passa, receitar paciência a quem sofre e retificar as más qualidades de quem segue conosco... Mas enquanto nos distraimos, em tais incursões a distância de nós mesmos, não passamos de aprendizes que fogem, levianos, à verdade e à lição. Enquanto nos ausentamos do estudo de nossas próprias necessidades, olvidando a aplicação dos princípios superiores que abraçamos na fé viva, somos simplesmente cegos do mundo interior relegados à treva... Despertemos, a nós mesmos, acordemos nossas energias mais profundas para que o ensinamento do Cristo não seja para nós uma bênção que passa, sem proveito à nossa vida, porque o infortúnio maior de todos para a nossa alma eterna é aquele que nos infelicita quando a graça do Alto passa por nós em vão!... Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caridade. Ditado pelo Espírito André Luiz. Araras, SP: IDE. 1978.