segunda-feira, 2 de agosto de 2010

22 de Abril, Sábado


Chamando-nos por nossos verdadeiros nomes, Jesus nos convidou a sentar a seu lado. Obedeci de pronto. Meu irmão, ao contrário, mudo e trêmulo, continuou em pé. Seus olhos estavam presos à relva que o Rabi acabara de esmagar com os pés. E Jesus, repetindo o convite com ambas as mãos, interrompeu os pensamentos de Eliseu:

Os espíritos, se é o que crês que sou, não esmagam a relva. Também tu deves aprender a confiar.

E em verdade vos digo que chegará o dia em que não duvidareis e, do mesmo modo que meus mensageiros de hoje, também vós (de outra maneira, em outro tempo e lugar) proclamareis a boa-nova do reino.

Nós?

Por que credes que estais aqui?

Digo-vos que nos universos do nosso Pai nada que diga respeito ao domínio do Espírito fica escravizado ao acaso. Tudo é obra do amor, da sabedoria e da misericórdia.

Não te compreendemos, Senhor.

... Quando fordes devolvidos ao mundo e ao momento de onde vindes, uma só realidade brilhará em vossos corações: ensinai a vossos semelhantes, a todos, o que houvestes visto, ouvido e vivenciado a meu lado. Sei que, à vossa maneira, terminareis por confiar em mim. Sei também que não temeis os homens nem o que eles possam representar. E que proclamareis a Verdade. E outros muitos, graças ao vosso esforço e sacrifício, receberão a luz de minha promessa.

A Jasão:

Por que te atormentas? Tem fé. Já te disse: também as criaturas a meu serviço têm um “código” que, como vós, não podem profanar. Recorda minhas palavras a Lázaro: “Meu filho, o que te sucedeu ocorrerá a todos aqueles que crêem no Evangelho, mas ressuscitarão sob uma forma mais gloriosa”.

Eu sou a Ressurreição... e a VIDA! Isto que vedes e podeis tocar não é fruto de fantasias nem de milagres. Olhai bem! É uma das formas de que desfruta toda criatura mortal dos mundos do tempo e do espaço, uma vez vencido o sono da morte...

Não estranheis se notardes que esta forma carnal pouco ou nada tem a ver com o que conheceis.

Lá, onde sereis devolvidos à vida verdadeira, as limitações que vos acossam aqui “embaixo” não têm sentido. Lá sentireis outra categoria de fome. E de sede. Outra classe de sentimentos e necessidades. Repito-vos: não vos atormenteis. Agora é muito difícil que o homem mortal possa alcançar as estrelas. Deve bastar-vos saber que elas estão ali e que, no momento próprio, não apenas as estrelas farão parte de vosso conhecimento.

A “estrada” para o Pai Universal é prodigiosamente reveladora. Nada ficará oculto. Não esqueçais
que vossos conhecimentos são finitos e que toda compreensão, por parte das criaturas mortais é relativa. Qualquer informação, mesmo a que procede de fontes elevadas, só é relativamente completa, localmente exata e pessoalmente verdadeira. Só isso. Os fatos físicos podem ser uniformes, mas a verdade é uma realidade viva e flexível na Filosofia do Universo.

As pessoas que evoluem como vós estais fazendo agora só parcialmente são sábias e relativamente
verazes em suas mensagens. Só podem ter certeza nos limites da experiência pessoal. Algo que pode parecer certo em determinado lugar pode ser relativamente verdadeiro em outro segmento da criação.


A Verdade divina, a Verdade final, é uniforme e Universal. A história das criaturas espirituais, tal como é contada por numerosas individualidades originárias de esferas diversas, pode mudar, às vezes, nos detalhes. Isso obedece à relatividade na plenitude de seus conhecimentos e de sua experiência pessoal, assim, como à extensão e amplitude dessa experiência...

Parece-me que te contradizes, Senhor... A vida e as vicissitudes dos seres humanos opõem-se a essa idéia da soberania universal de Deus.

O plano de nosso Pai é fruto do amor e, em conseqüência, perfeito. E até tal ponto é assim que as criaturas evoluídas, como vós, vêem-se necessariamente assaltadas por toda sorte de possibilidades, só para seu próprio benefício.

Possibilidades? – replicou meu irmão com amargura – Eu empregaria um termo mais duro. Que me dizes da desesperança, da mentira, da injustiça?...

Vejamos: a esperança é desejável? Pois bem, então é necessário que a existência humana seja permanentemente confrontada com a incerteza e a insegurança.

E que nos dizes da mentira?

Dizei-me: é bom o amor à verdade? Nesse caso é preciso que o homem cresça em um mundo em que o erro esteja presente e a falsidade seja sua cotidiana companheira.

Que podes dizer diante da decepção? E que podes dizer sobre a dor? Tu a experimentaste com acréscimos. Era necessário? Foi justo?

Tu desejas a felicidade, não é verdade?

Mais do que qualquer outra coisa neste mundo!

Então deverás viver em um mundo no qual a alternativa da dor e a probabilidade do sofrimento sejam possibilidades experienciais sempre presentes. As atribulações são a maior fonte de sabedoria para os mortais. Em verdade, em verdade vos digo que não se pode perceber a realidade espiritual se antes não a tivermos sentido pela experiência. E muitas dessas verdades só se
intuem e compreendem em meio à adversidade...

Quanto ao meu próprio sofrimento, em nada foi diferente do de muitos outros mortais. Quando alguém sucumbe à dor, eu, ou meus anjos, estamos ali...

Para que?

Ainda que o inferno não o perceba claramente, com o único fim de recordar-lhe que, como eu fiz, deve abandonar-se às mãos do Pai. Eu vos disse: nada no Reino do nosso Pai é obra do acaso.

O Pai! Falas tanto do Pai!... Mas, na verdade, Mestre, agora que ninguém nos ouve, que é o Pai?

Realmente crês que ninguém nos ouve? Tu amavas o teu. Isso te permite aproximar-te um pouco, só um pouco, da magnífica realidade de nosso verdadeiro Pai.

O Pai Universal não é um ser humano, com longas barbas brancas, como às vezes o pintam suas criaturas. Mas o exemplo é válido. Ele é o Deus de toda a criação. A “Causa Central Primeira” de todas as coisas e de todos os seres.

Deveis pensar nele como um criador. Depois, como um controlador. Por último, como um apoio infinito. A verdade sobre o Pai Universal começou a despontar sobre a humanidade quando o profeta disse: ‘Tu, Deus, estás só e ninguém existe a teu lado. Tu criaste os céus dos céus com todos os seus exércitos. Tu os preserva e os controla. Pelos Filhos de Deus é que os universos foram feitos. O Criador cobre-se de luz como uma roupagem e estende os céus como um manto’.

Todos os mundos iluminados reconhecem e adoram o Pai Universal, o autor eterno e o sustento infinito de toda a criação. Em incontáveis universos, criaturas dotadas de vontade têm empreendido a longa, muito longa viagem para o Paraíso e a luta fascinante da aventura eterna para alcançar Deus, o Pai. As criaturas que conhecem Deus não têm mais que uma ambição suprema, um único e ardente desejo: o de perecer-se em seu próprio mundo ao que Ele é em sua perfeição paradisíaca personalizada...

Mundos iluminados, dizes? – Eliseu, atento às mínimas palavras de Jesus, desceu a um plano mais mosaico. – Será que há vida inteligente e organizada fora da Terra?

... Jesus apanhou um molho daquela erva fresca e, arrancando-o pela raiz, mostrou-o e perguntou-nos:

Dizei-me o que é mais importante: isto ou vós? Ante nosso Pai, vós, sem dúvida. Credes, então, que o Pai pode permitir que a erva seja mais numerosa que sua prole?

Não respondeste à minha pergunta, Senhor: quem é o Pai?

Já respondi, Jasão... Mas colocar-vos-ei um exemplo. Há milhares de milhões de “éons” de tempos, o primeiro Inteligente que alcançou a consciência entrou no não-tempo, depois de experimentar um processo que também durou milhares de milhões de “éons” de tempo. No mesmo instante da transição ao não-tempo soube que, com isso, iniciava um longo caminho de realização absoluta de si mesmo que igualmente se prolongaria por milhares de milhões de “éons” de tempos, à espera de que as humanidades em caminho chegassem a fazer parte dele. E aquele Ser pensou: “Eu serei vossa meta, ainda que me ignoreis. Eu serei vosso propósito, quando apenas me presumirdes. Eu serei vossa imagem quando crerdes em mim. Eu só serei Deus quando formardes um todo comigo: quando chegardes a ser Deus comigo. E juntos voltaremos a começar um processo para além do não-tempo, pois que o tempo terá perdido sua razão de ser”.

E tu que nome dás ao Pai? Porque, segundo creio, tu também és Deus... Como se entende este quebra-cabeças? Sendo tu Deus, por que o Pai é mais do que tu?

Responde primeiro a uma pergunta: crês que poderias beber a água do mar (yan)?

Não, Mestre...

Pois nosso Pai é um lago que esqueceram de cercar... Não te empenhes em compreender a natureza de Deus: sente-a! Os nomes que as criaturas lhe atribuem dependem da forma com que eles concebem o Criador. A “Causa Central Primeira” do Universo nunca se revelou por seu nome: só por sua
natureza. Ao Pai pouco se lhe dá como o chames. Ele não impõe nenhuma forma de reconhecimento, nem de culto oficial, nem de adoração servil, às criaturas dotadas de inteligência e vontade.

O importante é que no mais fundo dos vossos corações o reconheçais, o ameis e o adoreis... voluntariamente.

O Criador recusa exercer pressão sobre o livre-arbítrio espiritual de suas criaturas
materiais e muito menos forçá-las à submissão...

Mas as religiões...

Sabeis qual é o dom mais precioso do homem?

Jasão: a liberdade?

A consagração amorosa da vontade humana à do Pai. De fato, meus filhos, é o único dom válido que o homem pode oferecer a Deus.

Eliseu: Queres dizer que nada mais podemos oferecer?

Fazer a vontade de Deus é tudo. Nele, os humanos vivem, movem-se e têm sua existência. Esse é o verdadeiro culto, que satisfaz plenamente à natureza do Pai Criador, dominado pelo amor.

E tu, Mestre, como o chamas?

Já te disse: Ab-bã.

Em espírito, todos os nomes outorgados a Deus guardam idêntico significado, embora, em palavras e símbolos, cada uma das denominações expresse o grau e a profundidade com que o Pai é entronizado no coração de suas criaturas...

E ali – meu irmão apontou o céu – como o chamam?

Junto ao centro do Universo dos universos, o Pai Universal é geralmente conhecido por nomes que vêm a significar “Causa Primeira”. Mais além, no exterior, nos universos do espaço, os termos empregados para designá-lo correspondem a “Centro Universal”. Mais adiante, na criação estrelada, é conhecido por “Primeira Causa Criadora” e “Centro Divino”. Em outra: o “Apoio Infinito”.

Na direção do oriente recebe o nome de “Divino Controlador”. Também foi qualificado como o “Pai das Luzes”, o “Dom da Vida” e o “Único Todo-Poderoso”.

Antes mencionaste o Paraíso. Existe, na realidade, ou se trata de uma bela metáfora?

Vós associais a um lugar pleno de felicidade e não estais equivocados. Mas, enquanto permanecerdes sujeitos à carne, jamais podereis aproximar-vos sequer de seu magnífico e imenso esplendor.

Poderias defini-lo em quatro palavras?

Centro de gravidade absoluta. Ou melhor, ilha nuclear de luz.

Meu Deus! – exclamou meu irmão – Então é certo?... Muitos seres humanos pensam que, ao morrer, entrarão imediatamente no Paraíso. Estão errados?

Querido amigo, o homem é como uma criança: possessivo, inconsciente e aferrado unicamente ao mundo que o rodeia. Eu te disse que o caminho para a perfeição, para o Paraíso, ou, se preferes, para nosso Pai, exige uma longa preparação em outras “moradas”...

Então, quando veremos Deus face a face?

Às vezes pareceis cegos... Por que buscais fora se Ele te doou parte de sua Essência?

O Pai disse: “Vós não podeis ver meu rosto, já que nenhum mortal pode me ver e viver”.

Pois bem, digo-vos que nenhum ser material poderia contemplar o Espírito de Deus e preservar sua existência terrestre. É impossível aos grupos inferiores de seres espirituais e a todas as classes de personalidades materiais captar a glória e o resplendor espiritual da presença da personalidade divina. A luminosidade espiritual da presença do Pai é uma luz que nenhum mortal pode suportar, que nenhuma criatura material jamais viu nem poderá ver.

Em resumo – deduziu Eliseu em sua honesta simplicidade – depois da morte tão pouco O veremos...

Meu filho, na imensidade da criação, Deus não trata diretamente com as personalidades dotadas de vontade. Isso faz Ele de outra maneira: como te disse, “instalando-se” no mais íntimo de cada ser e através de um vasto circuito de personalidades celestes.

Avalias bem o que acabas de dizer?

Se não te entendi mal – prosseguiu Eliseu -, Deus “instala-se” em cada um de nós...

Essa, meu pequeno curioso, é a maior verdade que poderás ouvir de meus lábios.

Teu irmão o sabe: a falsidade não pode aninhar-se em minha alma. E te digo que cada criatura mortal dotada de inteligência e vontade recebe diretamente do Pai uma “centelha” dele mesmo, enviada do Paraíso, e que vive no órgão mental dos mortais, ajudando-os a desenvolver sua alma imortal, destinada a sobreviver por toda a eternidade.

A presença deste “ajustador divino” (como poderíamos qualificá-lo) na mente humana é revelada graças a três fenômenos experienciais: a aptidão intelectual para conhecer Deus, a necessidade espiritual de encontrá-lo e o intenso desejo de toda personalidade de parecer-se com Ele.

“Feito à sua imagem e semelhança”.

Assim é, Jasão! E em verdade te digo que em todas as vossas aflições Ele se aflinge. Em todos os vossos triunfos, Ele triunfa convosco e em vós. Seu divino espírito é realmente uma parte de vós, conquanto a imensa maioria dos humanos jamais chegue a descobri-lo.

“Ajustador divino”...Gostei da tua definição! – Eliseu, avesso aos rodeios, mais uma vez questionou: Se é como dizes, Senhor, se cada ser humano recebe essa “centelha” do próprio Deus, que acontece com aquelas criaturas que não chegam a nascer? Tu não ignoras que ontem, hoje e “amanhã” o aborto provocado é uma realidade...

Olha a teu redor. Que vês?

Não sei... campos florescentes, formosas colinas, o lago...

Diz-me agora: crês que tudo isso é resultado da casualidade?

Tenho-vos repetido: a Criação inteira é obra de nosso Pai. O maarabit não sopraria, as tilápias não alimentariam os homens, as messes não amadureceriam se Ele não houvesse desejado. Tudo obedece a uma ordem baseada no amor. Qualquer profanação dessa ordem repercute no resto. Por isso, e até por puro egoísmo pessoal, as criaturas humanas devem respeitar as Leis da Natureza.

Credes de verdade que nosso Pai está sujeito ao erro? Suas leis são fruto do amor. E asseguro-vos que o amor é a única moeda válida no universo, impossível de falsificar...

Se o Pai é amor – intervim – por que consente no mal?

O mal, meu atormentado amigo, é o conceito relativo. O mal potencial é inerente ao caráter necessariamente incompleto de Deus, como expressão da infinitude e da eternidade limitadas pelo espaço-tempo. O fato do elemento parcial, em presença do total aperfeiçoado, constitui a relatividade da realidade.

Em todo o Universo, cada unidade é considerada como parte do Todo. A sobrevivência da fração depende da cooperação com o plano e a intenção do Todo, do desejo sincero e do consentimento de fazer a vontade do Pai. Se existisse um mundo evolucionário sem erro, sem possibilidade de julgamentos imprudentes, seria um mundo sem inteligência livre. Em meu Universo há milhões de mundos perfeitos, com seus habitantes perfeitos, mas é preciso que o homem em evolução seja falível, se verdadeiramente deseja ser livre. É impossível que uma inteligência livre e inexperiente seja uniformemente sábia a priori. Mas não confundais erro com “pecado”. A possibilidade de juízo errôneo só se torna “pecado” se a vontade humana assumir e adotar conscientemente um juízo imoral intencional.

Nesse caso – perguntei -, crer que as desgraças são enviadas por Deus pode ser uma absoluta estupidez?

Mais do que uma estupidez, Jasão, uma conseqüência da cegueira humana. O Deus Eterno é incapaz de sentir a cólera ou castigar seus filhos. Essas são emoções humanas, vulgares e desprezíveis, indignas de ser chamadas humanas e muito menos divinas.

Eliseu: Por que não nos fala um pouco mais desse Paraíso?

Falarei, se assim o desejais, mas será como se vós tentásseis fazer compreender a meus pequeninos de hoje o sentido de vossa missão... Antes deveriam conhecer muitas coisas.

O Paraíso ou a Ilha Nuclear de Luz deriva da Deidade ainda que não se possa dizer que seja uma Deidade. As crianças materiais não são apenas uma parte da deidade: são uma conseqüência.

Poderíamos dizer que, sem qualificação especial, é o Absoluto do controle material gravitacional, pela “Causa Central Primeira”. Essa imensa “Ilha”, cujas dimensões não podeis conceber com a limitada mente humana, permanece imóvel. É a única criação estática no Universo dos universos. A Ilha do Paraíso tem seu lugar no Universo, mas carece de posição no espaço.

Trata-se de uma Ilha Eterna, origem efetiva dos universos físicos passados, presentes e futuros.

O Paraíso é um termo que inclui os Absolutos centrais pessoais e impessoais de todas as fases da realidade Universal. O Paraíso pode implicar e reunir todas as formas da realidade.

Deidade, Divindade, personalidade e energia espiritual, mental ou material.

Tudo tem o Paraíso como ponto de origem, defunção e de destino, no que se refere a seu valor, seu significado e sua existência de fato. Mas nada de confusões. A Ilha Eterna não é um Criador.

É um controlador único de numerosas atividades universais. De um extremo a outro dos universos
materiais, o Paraíso influi na conduta de todos os seres relacionados com forças, energias e potências. Em si mesmo, porém, é único, exclusivo e isolado dos universos.

Não representa nada e nada significa. Não é uma força nem uma presença. O Paraíso é, simplesmente, o Paraíso.

E todas essas coisas – ponderou Eliseu com melancolia – por que não são reveladas claramente? Os homens talvez encontrassem um verdadeiro sentido para sua vida...

Meu filho, é conveniente que os homens não recebam uma revelação excessiva...

Isso asfixiaria a imaginação. O progresso exige que a individualidade se desenvolva.

A mediocridade busca perpetuar-se na uniformidade. Fora do contato com o Pai Universal, nenhuma revelação poderá jamais ser completa. Porque vosso mundo ignora geralmente a origem das coisas, mesmo as físicas, tem-se julgado conveniente dar-lhe, de quando em quando, noções de cosmogonia, mas isso sempre provocou confusões. As leis que governam a revelação limitam grandemente porque proíbem, como ocorre agora a vós, a transmissão de conhecimentos imerecidos ou prematuros.

A revelação é uma técnica que permite economizar séculos e séculos de tempo no trabalho indispensável de seleção e análise minuciosa dos erros da evolução, a fim de extrair as verdades adquiridas pelo espírito...

Mas essas revelações – interveio meu irmão nervosamente – ajudariam a Ciência...

A revelação não deve engendrar a Ciência, nem tampouco religiões. Sua função é coordenar ambas com a verdade da realidade.

Mas a Ciência...

Vossa Ciência, como a de todos os tempos, é apenas um espelho, que reflete vossa própria imagem cambiante. E te direi mais: tanto a Ciência quanto a religião estão permanentemente necessitadas de uma autocrítica mais corajosa e de uma consciência mais clara da insuficiência dos seus estatutos evolutivos.

Nos dois terrenos, os educadores humanos caem com freqüência no dogmatismo e na autoconfiança excessiva.

Mestre, não pareces muito amante das religiões. Quem o diria?

O sectarismo, querido amigo, é uma enfermidade das religiões institucionais.

Quanto ao dogmatismo, uma escravização da natureza espiritual. É muito melhor ter uma religião sem igreja do que uma igreja sem religião.

Isso me interessa. Quais, em tua opinião, são os perigos das igrejas?

Em outra oportunidade falei disto com teu irmão. Mas repetirei para ti, se esse é o teu desejo.

As religiões formalistas tendem à fixação de crenças e à civilização dos sentimentos; fossilizam a Verdade; desviam-se do serviço de Deus para o da igreja; lutam entre si e entre os irmãos, em nome do amor, propiciando a formação de seitas e provocando as divisões; dão lugar a autoridades eclesiásticas opressivas; conduzem à instalação de um falso estado mental aristocrático de “povo eleito”; mantêm idéias falsas e exageradas sobre a santidade; tornam-se rotineiras e petrificadas e acabam venerando o passado e ignorando as necessidades do presente.

Meu Deus! Mas tu também formarás uma igreja!

Se não desejas escutar minhas palavras, escuta ao menos as de Jasão. Quando o Pai permitir que me acompanhes, analisa bem meu proceder. Busca então no mais íntimo do teu ser e recorda o que acabas de afirmar. É importante que transmitas a verdade.

Eu não vim ao mundo para criar igrejas. Só para dar testemunho do nosso Pai. A natureza humana é débil (eu sei) e, involuntariamente, minha mensagem será deturpada, surgindo assim uma nova religião... ”a pretexto” de minha pessoa.

E qual é tua religião?

Já vos disse: fazer a vontade do Pai. Entregar-se generosamente ao amor e à fascinante aventura da busca pessoal de Deus. Eu não quero credos nem tradições que fossilizem a alma humana. Os que aceitarem minha mensagem jamais serão dogmáticos. São as metas (não os credos) que devem unir os
homens. E a que eu vos revelei é simples e cristalina: chegar ao Pai. Fazer sua vontade.

Descansar nele.

Perguntei pelo destino da caótica humanidade a que pertenço.

Em verdade vos digo que o futuro do mundo é esplêndido. As atribulações passarão. E chegará o dia em que os homens esquecerão rixas e interesses obscuros. Nesse dia, as nações da Terra, como um só povo, aceitarão a dupla mensagem que vos trago: que o Pai existe e que todos sois irmãos.

Vosso destino é a Luz. E ninguém vos arrebatará esse direito. Então, só então, achareis a Paz.

Para chegar a isso devereis aprender primeiro a gozar dos privilégios sem abusar deles, a dispor da liberdade como de um delicado recipiente de cristal que convém manipular com delicadeza e a assumir o poder recusando utilizá-lo para ambições pessoais. Esses são os sinais de uma “alta civilização”.

Eliseu: Então estamos muito longe...

Ide, pois...

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JcShow

O que é ser Voluntário!

Acordemos

É sempre fácil examinar as consciências alheias, identificar os erros do próximo, opinar em questões que não nos dizem respeito, indicar as fraquezas dos semelhantes, educar os filhos dos vizinhos, reprovar as deficiências dos companheiros, corrigir os defeitos dos outros, aconselhar o caminho reto a quem passa, receitar paciência a quem sofre e retificar as más qualidades de quem segue conosco... Mas enquanto nos distraimos, em tais incursões a distância de nós mesmos, não passamos de aprendizes que fogem, levianos, à verdade e à lição. Enquanto nos ausentamos do estudo de nossas próprias necessidades, olvidando a aplicação dos princípios superiores que abraçamos na fé viva, somos simplesmente cegos do mundo interior relegados à treva... Despertemos, a nós mesmos, acordemos nossas energias mais profundas para que o ensinamento do Cristo não seja para nós uma bênção que passa, sem proveito à nossa vida, porque o infortúnio maior de todos para a nossa alma eterna é aquele que nos infelicita quando a graça do Alto passa por nós em vão!... Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caridade. Ditado pelo Espírito André Luiz. Araras, SP: IDE. 1978.